terça-feira, 24 de novembro de 2009

A mais terrível história de horror

Banhas por todos os lados. Pele sobrando, com incontáveis reentrâncias. Enormes olheiras. Olhos loucos e profundos. Ancas assustadoramente gigantescas. Cabelo cheirando a Neutrox. Este é o monstro que vem aterrorizando minha vida.
Tudo começou quando fui comprar uma bala.
- Me dá uma bala, tia, por favor.
Seus olhos fundos se arregalaram e se fixaram em mim. Repeti: “me dá uma bala, por favor?”
- Pra você eu dou tudo.
- Ok, tia, mas eu só quero uma bala mesmo.
- Pode levar, pra você é de graça.
Achei a reação dela muito estranha, tive medo, mas não tinha como evitar reencontros, afinal, ela trabalhava em frente ao meu colégio. Parei de comprar qualquer coisa com ela, mas quase diariamente, logo depois que eu atravessava o portão da escola, ela se postava na minha frente e perguntava em tom grave (o único tom em que ela parecia saber falar): “quer uma bala?”. Eu respondia que não e seguia meu caminho. Isso durou até o fim do ano letivo. Fiz, então, vestibular e, quando saía da faculdade, no primeiro dia de aula, lá estava ela na porta: “quer uma bala?”. Tive calafrios, sequer respondi e fui para casa. Contudo, dia após dia estava ela na porta da minha universidade, me oferecendo bala, durante cinco anos.
Me formei em Direito, em seguida estudei por três anos e logrei aprovação num concurso para promotor de justiça. Graças a Deus, apesar do castrador estudo, foram anos felizes sem ter que aturar aquele ser horripilante. E, depois, mais felicidade ainda. Um ótimo salário, saúde, juventude, incontáveis mulheres. Numa sexta-feira, Carlinha ficou de me ligar para sairmos. Carlinha era uma mulher especial. Eu havia até dado para ela meu telefone fixo, que atendi feliz, esperando ouvir aquela voz doce ao fundo, perguntando “quer uma bala?”, digo, perguntando a que horas nos encontraríamos, mas infelizmente minhas expectativas se frustraram e a mesma voz sinistra, que me perseguia desde os tempos de colégio, me fez a malfadada pergunta.
- Como você conseguiu meu telefone? Me esquece! – respondi.
- Telelistas ponto net.
- Ah, maldição, será que ninguém mais tem privacidade nesse mundo!?
- Não quer uma bala?
- Não, não quero bala, nem sua nem de ninguém. Você me fez detestar bala!
- Posso ir aí levar uma pra você.
- Você tá maluca!? Acabo de dizer que detesto bala.
- Sinto tanta falta de te encontrar... Me lembro quando era um menininho, saindo assustado da escola, como quem corre do bicho papão... – mesmo querendo falar docemente, sua voz era grave e macabra – Na faculdade, mais maduro, parecia ter se tornado indiferente depois do susto do primeiro encontro. Após de formado, nada. Nunca mais quis saber de mim. Eu, que te acompanho desde garoto.
- Eu nunca quis saber de você, sua bruxa! Por que faz isso comigo? Some da minha vida!
- Mas... antes disso, eu preciso te dizer uma coisa...
- Fala e some.
- Eu te amo.
- Tá, agora tchau.
Bati o telefone, mas ele tocou segundos depois. Pensei se deveria atendê-lo. Poderia ser a Carlinha.
- Alô?
- Eu disse que te amo, você tem que respeitar meus sentimentos, ao menos me dar uma resposta.
- Some.
Desliguei novamente o telefone, que voltou a tocar. Não atendi, nem nessa, nem nas vinte e duas vezes seguintes. Liguei, então, para Carlinha do meu celular, e marcamos de nos encontrar.
Naquela noite brochei. Estava preocupado. E se a louca descobrisse meu endereço? Se ela tiver o mínimo de know how de investigação ou resolver pesquisar o assunto, não é difícil descobrir, até porque meu apartamento é comprado e está no meu nome. Me abri com Carlinha, que fez uma proposta surpreendente:
- Vem morar comigo.
Diante de tão assustador convite voltei para casa o mais rápido que pude. Minha tenaz perseguidora tinha um amor platônico por mim. Já Carlinha estava em vias de me encoleirar, se aproveitando do meu pavor. Sai de reto! Fiquei tão tenso com a mera possibilidade de viver com uma mulher e perder minha libertina liberdade que minha garganta ficou travada e irritou. Não tive dúvida, comprei uma Benalet. Entre a bala e coleira, fico com aquela.

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Tenho postado pouco, bem pouco por aqui. Quem quiser ter uma idéia melhor do que venho produzindo recomendo acessar o site do Projeto Caneta, Lente & Pincel. Às vezes, uma resenha ou outra no Ambrosia. Aqui os posts devem continuar eventuais.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Zodíaco

Faltavam poucos minutos para o sol sair de gêmeos. Nenhum signo é pior do que este. Geminianos são indecisos, imprevisíveis, inconstantes... enfim, insuportáveis, quando não perigosos. Está certo que os cancerianos com freqüência são piegas, mas nada é pior do que um geminiano. Certa feita, vi uma geminiana ficar cinco minutos em frente a uma prateleira de supermercado repleta de latas de molho de tomate decidindo qual delas compraria. Tal irresolução e incapacidade de iniciativa faz com que todos os geminianos que conheço sejam uns fracassados. E não pensava de outra forma aquela mulher prestes a dar à luz.

“Força, força!”, gritavam. Ao contrário, ela distendia todos os músculos e respirava profundamente, estufando ainda mais a enorme barriga. Nada de respiração cachorrinho. E os olhos no relógio. Não parava de perguntar à enfermeira ao lado que horas eram. A profissional ficava chocada. Não entendia como alguém prestes a parir podia estar tão preocupada com o horário e tão alheia à situação.

Quando a dor feria sua determinação, a parturiente pensava nas qualidades dos cancerianos e nos defeitos dos geminianos. Lembrou-se de uma canceriana sua conhecida que enriqueceu lendo a aura das donas de casa do Leblon.

Eis, então, que o obstetra surgiu ao seu lado, exasperado, mas controlando a altura da voz: “o que tá havendo!?! Você fica indiferente a tudo que acontece! Eu falo pra fazer força, você relaxa, eu digo pra respirar rápido, você parece estar na aula de ioga. Você tá achando que isso aqui é alguma palhaçada? Saiba que sem o adequado atendimento médico as chances de morte no parto são muito maiores. Então, colabore, se não quiser arriscar sua vida e a do seu filho!”. Ela não obedeceu. Preferia dar à luz a um cadáver do que a um geminiano. Este débito ela não carregaria para sua cova.

Mas o bebê, cansado de esperar a ajuda materna, impulsionou-se para fora, e a cabeça começava a despontar, quando sua progenitora sentou-se e num rápido golpe empurrou-o novamente para dentro, estarrecendo os presentes.

“É o estado puerperal!”, gritou o médico. “Bota pra dormir!”. Em instantes o anestesista deu-lhe uma agulhada.

O pai sabia das crenças da mulher. Ouvindo aquela ladainha por nove meses, acabou por ficar parcialmente convencido. Contudo, presente ao nascimento, agoniou-o vê-la empurrar seu filho, que queria respirar o mundo, de volta para suas entranhas. Terminado, com sucesso, o parto, foi ter com o médico. Explicou-lhe as razões da esposa e disse que apenas vinte minutos separavam o sol da constelação de Câncer quando o neném nasceu. Se ele colocasse o horário no prontuário vinte minutos mais tarde, faria uma mulher feliz. O médico negou-se. Disse que aquilo não era ético, mas o valor de sua ética era de mil reais por minuto.

Raul era o nome do novo canceriano, bradava a orgulhosa mãe. A soberba era não só pela beleza e saúde de sua prole, mas pela sua coragem e força de vontade em segurar o máximo que lhe permitiram, em prol de trazer ao mundo um homem melhor. Contudo, a envaidecida mamãe desconfiou que algo tinha saído desconforme o script quando, perguntado sobre qual presente queria para seu quinto aniversário, Raul, tal qual um geminiano, respondeu que estava na dúvida: não sabia se uma bola ou uma boneca.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Clube da Leitura: Modo de Usar - sobre o pré-lançamento

O pré-lançamento de "Clube da Leitura: Modo de Usar, vol I", na FLIP 2009, foi um grande sucesso. Uma noite incrível e muito animada. A repercussão na imprensa também foi (e continua sendo) grande. Por enquanto, primeira reportagem da Revista Programa, do JB; BBC; O Globo (duas vezes); UOL. E ainda há mais matérias sobre o livro em vista.

As impressões dos autores estão no Ambrosia. Particularmente aqui você encontra minhas anotações sobre a noite de sexta. Em breve escreverei sobre domingo para o mesmo portal. Aliás, agora que me tornei colaborador fixo do Ambrosia acostumem-se a me visitar por lá.

Lançamento de "Clube da Leitura: Modo de Usar, vol. I" no sebo Baratos da Ribeiro, em Copacabana, no dia 28/07. Mais informações sobre o evento em alguns dias.

Em Caneta, Lente & Pincel contamos agora com uma dupla de colaboradores convidados por rodada. Ontem a primeira dupla de convidados (Carmen Molinari e Ivan César) nos brindou. Em breve, o referido site contará com links para perfis dos colaboradores.

É isso. Quem está caindo aqui de pára-quedas, acabo de mudar de endereço. Posts anteriores no meu antigo endereço.